Compartilho com você a história na íntegra de um dos capítulos do livro "Storytelling Vidas Reais". Hoje celebramos a incrível história da coautora Gabriella de Almeida Santana.
Esta história nos mostra a jornada de uma alma corajosa, cheia de desafios e esperança. Seja inspirado pela resiliência de Gabriella e pela bondade de Deus, que a guiou para uma nova família. 🙏💖
Eu tinha 7 anos quando, um dia, ao voltar da escola, havia policiais e assistentes sociais em minha casa. Nessa época, eu morava com a minha tia Joana e meus três irmãos, pois a minha mãe Angélica tinha perdido nossa guarda. Disseram que ela não cuidava bem da gente, mas eu sentia falta dela e não entendia por que tivemos que nos mudar. A tia Joana disse que cuidaria bem da gente, mas estávamos morando com ela há alguns meses e ela gritava e batia muito em mim e nos meus irmãos. Os policiais estavam lá porque uma vizinha tinha feito uma denuncia de maus tratos.
Dia 30/11/2019 foi o dia em que me mudei para o abrigo. Nunca vou esquecer o medo e a insegurança que senti nesse dia. Enquanto as outras crianças nos olhavam curiosos, vários adultos vinham conversar comigo para explicar que lá seria meu novo lar. Disseram que seria temporário, mas lá passei grande parte da minha infância.
Quando fomos morar no abrigo, minha irmã Valéria tinha 10 anos, o Paulo tinha 5 anos e o Daniel tinha 2 anos.
Depois de alguns dias no abrigo, a minha mãe veio nos visitar. Eu queria muito voltar para casa com ela, mas disseram que eu não podia. O tempo passou e ela não voltou mais. A tia Joana também foi lá, mas falei para as `'tias” que cuidaram de mim, que eu não queria vê-la.
O dia a dia no abrigo foi ficando mais fácil, fiz amigos, frequentava a escola e estava ao lado dos meus irmãos. Um dia, a assistente social nos chamou e explicou que não voltaríamos mais para nossa casa, eles iriam buscar para nós uma nova família.
Nesse momento, meu coração se encheu de esperança e medo. Lá no abrigo conheci crianças que foram adotadas e pareciam bem felizes, mas também havia outras crianças que não gostavam da nova família, e voltavam a morar no abrigo.
Os meses se passaram e nada mudou. Cadê a nova família? Será que ninguém nos queria?
Sempre que a assistente social ia me visitar eu perguntava quando eu iria conhecer a minha nova família. Um dia, ela nos chamou e explicou que eles não encontraram uma família disposta a adotar nós quatro juntos. Então, o juiz separou nosso processo: eu e a Valéria seríamos adotadas por uma família, Paulo e Daniel seriam adotados por outra. Novamente, o medo e a ansiedade tomaram conta de mim.
Chegou o grande dia que eu, finalmente, seria adotada. Gleice era o nome dela. Disseram que ela seria minha nova mãe. Ela era solteira, trabalhava como professora, gostava muito de criança e queria formar uma família. Quando ela passou a nos visitar no abrigo, eu fiquei feliz ao vê-la chegar, mas a Valéria não. Ela não queria ser adotada, pois queria voltar para casa.
O Paulo e o Daniel também foram adotados, por um pai e uma mãe. O nome deles era Rafael e Gabriella. Eles iam muitas vezes ao abrigo, brincavam, corriam, contavam histórias e algumas vezes eu me aproximava e brincava com eles. Apesar de eu estar me acostumando com a ideia de ter uma nova mãe, o meu sonho era ser adotada por aquela família e poder ficar com os meus irmãos.
Gleice passou a nos levar para a sua casa, para nos adaptarmos à nova vida com ela, mas cada vez mais a Valéria estava resistente à mudança. Por vezes ela esbravejava e não queria ir, outras vezes ela se trancava no quarto por horas e não queria sair. Eu não entendia por que a Valéria não queria uma nova família. Era a nossa chance de ter um lar.
Passaram alguns dias e a Gleice não voltou. Senti que havia algo errado. A assistente social nos chamou e disse que ela desistiu de nos adotar. Como uma mãe desiste dos seus filhos? pensei.
Enquanto isso, a adaptação dos meus irmãos à nova família estava indo muito bem, e apesar de estar muito feliz por eles, eu fiquei triste por não saber quando eu iria vê-los novamente. Algumas semanas se passaram e eles se mudaram para a nova casa, a nova família. Eu sentia falta deles e me perguntava: Quando seria a minha vez?
Os meses se passaram, minha esperança estava cada vez menor. Conheci muitos adolescentes no abrigo que esperavam por anos e nunca foram adotados.
Eu fui poucas vezes à igreja, e não sabia como orar, não sabia se alguém iria me ouvir. Mas, no meu íntimo, eu pedi a Deus, que se Ele existisse, eu queria muito que Ele me desse uma família.
Mais de um ano se passou desde o último dia em que eu vi os meus irmãos, e, de repente, ouvi uma voz familiar. Eram eles; eles foram nos visitar no abrigo.
Uau! Como eles haviam crescido, como estavam diferentes e felizes. Senti um misto de alegria e tristeza.
Depois dessa visita a assistente social me chamou e explicou que, novamente, não havia famílias dispostas a adotar eu e minha irmã. Nessa época, eu tinha 10 anos e a Valéria,
14. O juiz decidiu que teríamos mais chances se o nosso processo fosse separado. Agora, eu seria adotada sozinha.
Nesse momento, eu já não sabia mais o que eu queria. Cada vez decidiam algo diferente para o meu futuro. Eu já não tinha mais esperanças.
Três anos, cinco meses e dezesseis dias se passaram desde o dia em que eu fui repentinamente afastada da minha família; que passei a viver em um abrigo, longe de tudo que eu conhecia.
Foram 1250 dias de espera, até que ganhei uma nova chance de ter uma família.
No dia 03/05/2023, acordei cedo e me arrumei para ir ao fórum. Disseram que eu conheceria minha nova família. Eu estava tão ansiosa, que mal dormi à noite. Chegando lá, vi rostos conhecidos. Eram o Rafael e a Gabriella, os pais dos meus irmãos Paulo e Daniel. Fiquei retraída; era um misto muito grande de sentimentos. O que eles estão fazendo aqui? Será que eles serão meus novos pais? Será que vou morar com meus irmãos?
Eu mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Desde quando eu os conheci, eu sonhava em ser adotada por aquela família. No dia seguinte, eles foram me visitar no abrigo; era real. Eles passaram a ir todos os dias, me levavam para passear, e cada dia parecia um sonho. Eu finalmente tinha uma família que me amava, me respeitava e cuidava de mim.
Faz alguns meses, desde o dia do “para sempre”, o dia em que finalmente fui para casa. Hoje tenho um pai, uma mãe, moro com meus dois irmãos e a vida começou a ficar colorida. Sinto falta da minha irmã Valéria e da minha outra família, mas me sinto grata pela oportunidade que Deus me deu de reescrever a minha história.
Fatos reais com nomes fictícios, exceto Gabriella e Rafael.
História escrita por Gabriella Almeida Santana - escrita sobre a versão de sua filha.
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